Zabumba é também instrumento feminino

Corpo território, corpo vida, corpo cura, corpo ancestral.

O projeto Zabumbeiras reúne mulheres no bairro Fé em Deus, um quilombo urbano de São Luís, para aprender o toque e manejo da zabumba, principal instrumento do sotaque que leva seu nome. 

Este é, inclusive, o sotaque de bumba-meu-boi mais antigo do estado, sendo originalmente criado pelo Boi de Guimarães que também empresta seu nome ao ritmo (sotaque de zabumba ou de Guimarães).

As Zabumbeiras são vinculadas ao grupo quase centenário, 96 anos de fundação, Boi da Fé em Deus, presidido atualmente pelo Seu Tonico.

O Boi da Fé Deus constitui-se hoje como uma associação assim como outros bois o são, por questões jurídicas e para serem reconhecidos, inclusive, em editais de fomento.  Com um batalhão com cerca de 90 brincantes, a associação do boi tem dois espaços: o barracão onde acontecem os ensaios e uma casa de apoio que fica em frente ao Barracão chamada Vila São João. Nesses dois espaços também são realizados ensaios do tambor de crioula. 

As pessoas do boi têm uma forte ligação com o terreiro que fica ali próximo e as festas do divino que acontecem no bairro. Espaços que se interligam, possibilitando o trabalho em rede. 

Roda de conversa na sede do Boi da Fé em Deus

Nesse contexto, nascem as Zabumbeiras, em 2018, no formato de oficinas com o objetivo de incentivar a participação das mulheres no boi também no toque de zabumba, majoritariamente tocado por homens, posicionando-se, assim como resistências às práticas machistas enraizadas nesses espaços.

Lideradas por Taina Redondo, que entrou no Boi da Fé em Deus, em 2014, as Zabumbeiras têm atualmente a participação de aproximadamente 18 mulheres, das quais 5 estiverem conosco na roda de conversa: Tainá, Nanny, Letícia, Isabela e Cibele. 

Elas nos contaram sobre a importância de participar desse movimento que além de mobilizar a inclusão de mulheres no batuque do bumba meu boi, as coloca em conexão com sua ancestralidade e religiosidade.

Taina Redondo reforçou que as Zabumbeiras é também uma rede de apoio importante para elas, onde há troca de afeto, cuidado e suporte em pautas que vão muito além da prática da zabumba, atravessando os enfrentamentos do dia a dia pelos quais elas passam.

As Zambumbeiras

Tainá– do terreiro de Emané, zabumbeira desde 2015, e, em 2018, começou a facilitar a oficina com jovens da comunidade, fortalecendo os laços da família do axé também. Taina vê as Zabumbeiras como resistência ao machismo e que a presença das mulheres na zabumba fortalece o boi.  

Isabela – Educadora e produtora musical. Busca a identidade e ancestralidade no terreiro de mina. Para ela: “o terreiro é o primeiro lugar de afirmação, somos mulheres agentes de cultura”. É membro do grupo musical Sapaleiras – integrado só por mulheres lésbicas,  e vê que a ancestralidade está no corpo rítmico, nos sons. “O bumba boi me atravessa de uma maneira ancestral e as zabumbeiras me fortalecem nessa identidade ao mesmo tempo que me chama para o bairro”.

Cibele – Se identifica como cria da fé em Deus e diz que as Zabumbeiras é um local de afirmar a identidade. “O batuque me atravessa” e diz que o que dá força pra segurar a zabumba é a ancestralidade.

Letícia – Fala do corpo potência e que cresceu dentro do espaço do terreiro que o vê como espaço de cura, assim também como as Zabumbeiras. Diz ainda que as mulheres curam umas às outras e reafirma seu compromisso com o chão sagrado de pertença, “eu não quero sair daqui”.

Nanny – Dj e produtora cultural,  fala do corpo-memória como troca energética, espiritual, arte e vida e diz que luta pela retomada matriarcal: faço isso por mim e  por nós, nossa força é matriarcal. 

Todas elas têm uma forte e bonita ligação com o bairro e o entorno, o que também desperta sentimento de pertença e retorno às raízes, a partir da possibilidade de fazer parte dessa manifestação cultural que é o Boi da Fé em Deus.

Elas também lutam pela democratização da cultura e arte,  na certeza que a cultura popular é um espaço de reconhecimento.

O Toque da zabumba, portanto, reverbera a concepção de ser mulher e das dificuldades vividas dentro e fora do folguedo, servindo como lugar de empoderamento, mostrando que a mulher pode e deve estar onde ela quiser.

Zabumbeiras e Emaranhadas

Confira os conteúdos mais recentes

Manutenção do Bem Viver é principal pauta da Marcha das Margaridas

Manutenção do Bem Viver é principal pauta da Marcha das Margaridas

A Rede Emaranhadas esteve em Brasília, de 15 a 16 de agosto, com mais de 100 mil mulheres participando da 7ª edição da Marcha das Margaridas, marchando pela reconstrução do país e pelo bem viver. Composto majoritariamente por trabalhadoras rurais, o evento busca dar...

Emaranhadas presente no X FOSPA

Emaranhadas presente no X FOSPA

Aconteceu entre os dias 28 e 31 de julho, a décima edição do FOSPA - Fórum Social Pan-Amazônico, realizado em Belém do Pará. A programação contou com mesas, painéis, caminhadas e uma extensa programação para debater a realidade amazônica a fim de contribuir com as...

Apoio:

Fale conosco

emaranhadasma@gmail.com

Ascom: (98) 981282313

Siga-nos