Recomeços

Uma nova terra com a mesma luta

Dona Divina mora na zona rural de Paço do Lumiar. Natural de Primeira Cruz, viveu por muitos anos no residencial Renascer, comunidade que também foi ameaçada de despejo, e há cerca de um ano vive em Terra Nossa.

Sua história enquanto referência comunitária começa na segunda comunidade, Renascer, lugar em que iniciou e viveu fortemente sua militância por moradia e direito à terra e é o local onde, atualmente, residem os três filhos de Divina.

Bem humorada, ela diz ter deixado a casa em Renascer para os filhos. “Esperei eles saírem, mas já que não saíram, eu resolvi sair”, afirma rindo. 

Ela deixou seu lar para buscar uma nova moradia na ocupação Terra Nossa, onde vive com o companheiro há pouco mais de um ano, tendo na vizinhança e rede de apoio, a irmã Conceição e suas sobrinhas.

Ela nos contou sobre as dificuldades em assentar-se em Terra Nossa. O acesso à energia elétrica foi uma conquista fruto da luta. Atualmente, ela trabalha para uma empresa de coleta de notas fiscais que ajuda no sustento da casa. 

Seus planos para o novo lar são muitos. A casa, recém construída, é preenchida pela esperança de manter-se ali e poder cultivar os costumes de uma vida simples e rural que tanto gosta.

Uma história de luta

Junto a outras mulheres, Dona Divina tem uma vida marcada na luta pela permanência de comunidades em Paço do Lumiar. Ela e Ana Lúcia (referência em Tendal Mirim – link de acesso ao perfil de Ana Lúcia) são amigas, vizinhas de Paço do Lumiar, colegas de trabalho e se conheceram nas diversas lutas que participaram e mobilizaram por permanência na zona rural de Paço do Lumiar, entre as quais temos: Menino Gabriel, Renascer, Paranã, Paranã II, Todos os Santos, Tendal, Eugênio Pereira, Carlos Augusto.

Juntas, relembraram episódios de mobilização, protestos e ações de enfrentamento dos quais elas participaram pela garantia da terra às comunidades de Paço do Lumiar. 

Elas contam que foram trinta e seis comunidades ao todo que sofreram ameaças de despejo e que foram defendidas em ações de resistência pelas Tranca-Ruas, alcunha que receberam devido a mobilização majoritariamente feminina que acontecia em prol das comunidades.

Isto porque Dona Divina, Dona Ana Lúcia e outras mulheres definiam as ações para impedir a derrubada arbitrária das casas, com vigilância sistemática do território contra invasões e outras ações que pudessem ser realizadas contra as comunidades e seus moradores. 

Ocupação Terra Nossa

Em Terra Nossa, Dona Divina decidiu não tomar a frente da comunidade na busca pelo direito à terra e à organização coletiva. Ela revela que é um fardo pesado e que tem consequências na vida de quem toma esse posto de protagonista, mas sua história de luta permanece. 

E, ainda, que Dona Divina não queira ocupar esse cargo oficialmente por Terra Nossa, a luta que corre em seu sangue, tem feito ela resistir no novo território.

As condições de moradia na comunidade ainda são incipientes. Eles conseguiram energia elétrica, fruto da luta comunitária, mas ainda não têm sistema de água encanada e muito menos serviço de esgoto. 

A água é carregada de uma fonte disponibilizada, depois de muito esforço, na entrada da rua de acesso à comunidade e é compartilhada pela comunidade vizinha.

A escassez de água, esse bem precioso e essencial para todo ser humano, acaba dificultando o cultivo de uma pequena horta para consumo. Em Terra Nossa, assim como Divina, a maioria dos moradores vêm de outras ocupações ou de bairros periféricos próximos à Terra Nossa.

Divina ainda não tem estimativa de quando a comunidade terá a titulação da terra, visto que ainda não há mobilização coletiva nem interesse público. “Estamos aqui pela misericórdia de Deus”, finaliza.

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