Doutoras da Terra: Encontro de Mulheres no Sítio Raízes reforça laços com a terra e com os saberes ancestrais

Entre os dias 10 a 12 de dezembro de 2021, o projeto Emaranhadas realizou encontro de mulheres no município de Pirapemas, a 180km de São Luís. O projeto reuniu cerca de dez mulheres vindas da comunidade quilombola Aldeia Velha, em Pirapemas, e mulheres da zona rural de São Luís.

A proposta do Emaranhadas é promover troca de saberes e vivências entre mulheres que estão de alguma forma sendo protagonistas em suas comunidades, mobilizando outras mulheres e criando movimentos de economia feminista e a luta por moradia e direito à terra.

Dinâmica de emaranhamento de mulheres durante encontro no Sítio Raízes

Em Pirapemas, Dona Lucimar, moradora do Sítio Raízes, recebeu em sua casa o primeiro encontro do projeto que foi estruturado em uma programação com Roda de Conversa,  varal solidário, oficina de manteiga do babaçu, além de outros subprodutos – leite vegetal de babaçu, leite condensado; sorvete de babaçu. Também foi realizado durante o encontro atendimento sobre práticas medicinais naturistas, incentivando o autocuidado entre as mulheres, a partir de ervas e plantas nativas da região.

Mulheres em sua maioria negras que vivem da terra e descobriram recentemente que outros produtos podem ser confeccionados com o  babaçu, espécie abundante na região. Para Dona Lucimar, o babaçu foi redescoberto há 3 anos na comunidade e hoje ele tem muito mais valor em produtos que a comunidade produz para uso próprio e para venda.

Ela ainda falou da importância do encontro, dois anos após a pandemia da covid-19. “Foi um momento também de celebração da vida, de ter escapado da pandemia e saber que estamos todas de pé”, afirmou Lucimar que mora há 16 anos em Pirapemas, onde hoje lidera o coletivo Mulheres Guardiãs da Semente, junto à Dona Rosa e Dona Antônia. Elas também integram o coletivo Mulheres Guerreiras da Resistência,  formado por mulheres de várias comunidades quilombolas do estado, articulado junto ao Moquibom (Movimento Quilombola Maranhão).

Vivência no Sítio Natureza: pilando coco babaçu para produção de manteiga

Foi Dona Lucimar que ministrou a oficina de manteiga de babaçu, enfatizando o trabalho contínuo que tem com as mulheres da região, buscando oferecer alternativas para uma independência econômica, a partir do que o babaçu pode ser.

Dona Rosa, que também mora na região, destacou os produtos que hoje ela e as companheiras da região produzem a partir do babaçu: faz-se sabonete, sabão, mesocarpo, óleo de coco, sorvete ,além da manteiga e leite condensado.

O encontro foi encerrado no dia 12 de dezembro com uma visita às comunidades vizinhas de Dona Rosa (Pontes) e Antônia (Bica), quilombolas e quebradeiras de coco que também integram o coletivo Mulheres Guerreiras de Resistência.

Atividades realizadas no encontro

Mística de abertura do Encontro – a abertura do encontro se deu com a exposição do projeto para as mulheres presentes, seguida de uma dinâmica em que as participantes foram provocadas a se apresentar e trazer para a roda mulheres que não puderam estar ali. Foi um momento de partilha de sonhos, alguns dissabores, mas também de esperança no encontro e no fortalecimento da união das mulheres em prol de um protagonismo tanto individual quanto coletivo.

Troca de Sementes – As sementes crioulas tem uma relação muito forte com a agroecologia e com a agricultura familiar, sendo importantes na manutenção de uma cultura alimentar em comunidades quilombolas, indígenas e assentadas. Dessa forma, o momento Troca de Sementes buscou cruzar essas culturas, por meio da matéria-prima da cultura alimentar de uma comunidade para outra. Assim, foram distribuídas para as mulheres sementes de diversas espécies para que elas pudessem cultivar em seus territórios, contribuindo, assim, para a circulação dessas plantas em territórios baseados em agricultura familiar.

Rosa e Antônia, mulheres quilombolas e suas produções artesanais

Mística da Teia – A mística da Teia de Sentidos foi um momento de autoconhecimento e partilha entre as mulheres. Realizada na manhã de sábado (11.12), as mulheres foram convidadas a relatar aquilo que elas mais gostavam de ver, cheirar e comer/beber. A ocasião foi importante para entender o que é prioridade na vida e contexto dessas mulheres e o que é critério para um bem-estar. Foi possível ainda perceber a forte relação das mulheres com as plantas que cultivam, com suas famílias e com a promoção do bem-estar que elas buscam para si. 

Intercâmbio de Saberes – O propósito do encontro foi realizar troca de vivência e saberes entre as mulheres da comunidade, além de promover um (re) encontro entre elas. Assim, o evento foi intercalado por rodas de conversas formais e informais em momentos de integração, como as pausas para a refeição (e até a feitura dessas refeições) onde elas puderam partilhar seus anseios, sonhos e desejos, bem como as práticas que realizam na relação com a terra, com os recursos naturais que dela provêm e com as ações de rotina para o autocuidado e bem-viver. 

Atendimento medicina natural – seguindo a proposta do fortalecimento das práticas de autocuidado, foi realizado também consultoria e atendimentos individuais com uma fitoterapeuta (Irmã Angélica) que falou sobre os benefícios das plantas, raízes e folhas nativas da região, ampliando a percepção destas mulheres sobre como explorar melhor as qualidades da vegetação que as cerca, como a moringa, que possui diversas propriedades medicinais e cresce em abundância na região de Aldeia Velha.

Varal Solidário – Com a intenção de ser uma atividade mais descontraída e cultural dentro da programação, o projeto Emaranhadas promoveu um Varal Solidário com trocas de roupas, calçados e acessórios entre as presentes. Além de uma oportunidade de praticar a moda circular e consumo consciente, o momento também promoveu integração entre as mulheres, com fortalecimento de laços, afetos, por meio de conversas, trocas, risos e descontração.

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