No dia 25 de maio aconteceu mais um encontro ampliado da Rede Emaranhadas. O Casarão Reocupa, no Centro Histórico da capital maranhense, foi, de novo, palco do evento que, em sua quarta edição, promoveu uma vivência, a partir de uma oficina de pães e bate-papo, para discutir e apresentar a economia solidária e o empreendedorismo social como ferramentas eficazes no fortalecimento de mulheres e no combate às crescentes desigualdades que se cristalizam com as mudanças climáticas e falta de políticas públicas.
Recebemos Ione Guimarães e Elena, parceiras no empreendimento Casa de Elena, para partilhar com as presentes suas experiências no campo da economia solidária e empreendedorismo social. Participaram da atividade as mulheres que integram a Rede e mulheres externas que participaram via inscrição com valor solidário. Ao todo, reunimos 15 mulheres durante toda a programação.
Já falamos aqui sobre o trabalho que Ione e Elena realizam na comunidade do Gapara. Ione, em específico, hoje integrante da Rede Emaranhadas, tem atuação contundente junto ao Centro de Referência Estadual da Economia Solidária no Maranhão – Cresol, além de participar de outros coletivos e movimentos como o Mulheres Unidas Cidade Nova.
Programação do dia
O encontro realizado no Casarão Reocupa começou com a apresentação da Rede, dando início às trocas de saberes sobre empreendedorismo solidário e social a partir de uma perspectiva socioambiental e feminista, priorizando conhecimentos ancestrais e agroecológicos.
A oficina de pães, segunda formação oferecida pela rede, integra um conjunto de formações pedagógicas e práticas previstas com o objetivo de apresentar novas perspectivas de geração de renda às mulheres participantes, promovendo uma série de trocas, desde a seleção dos ingredientes até o momento de colocar os pães no forno. Durante o processo de enfarinhar e sovar a massa, algumas mãos começaram a compor a receita.
Além da oficina e da roda de conversas, a rede também exibiu o documentário ” Vida em Mutirão”, desenvolvido pela Sempre Viva Organização Feminista (SOF), que inspira nossos trabalhos e exemplifica as construções coletivas de mulheres de outras partes do Brasil.
Também apresentamos ferramentas que podem auxiliar em nossos trabalhos, como a caderneta agroecológica. Ione fez um resgate histórico sobre o surgimento da economia solidária, com apresentação do texto: “Economia solidária se aproxima das origens do socialismo” sobre Paul Singer, economista, sociólogo e um dos principais teóricos no Brasil sobre o tema.
A conjuntura da política da economia solidária no Estado do Maranhão também foi abordada oportunidade para elucidar sobre as dificuldades para obtenção de documentos e certificações.
Desta vez, o encontro foi aberto para outras mulheres discutirem o tema e vivenciarem experiências junto à Rede Emaranhadas.
Perspectivas para o futuro
As reflexões deste encontro visam apresentar as perspectivas propostas pelas mulheres para pensar e construir uma economia que rompa com a lógica capitalista, patriarcal e racista da produção em larga escala, que privilegia o lucro e o mercado em detrimento da vida. Foram apresentados os conceitos da economia feminista, que questiona a sociedade de mercado e o pensamento econômico dominante, que
[…]“questiona a sociedade de mercado e o pensamento econômico dominante que considera relevante apenas às atividades realizadas no mercado, a partir do trabalho remunerado, da compra e venda de produtos e da lógica de obtenção de lucro, de modo que, só tem valor, tudo aquilo que pode ser transformado em mercadoria. Os corpos, as pessoas, a natureza, e a vida só tem valor nessa sociedade, se puderem ser transformados em mercadorias. Mas só essas atividades não são suficientes para produzir a vida e mover a sociedade[…]”
(Cartilha 11 da Marcha das Margaridas – Autonomia Econômica, Inclusão Produtiva, Trabalho e Renda, 2023)
Também é necessário dar visibilidade, fortalecer e compreender as conjunturas e obstáculos que dificultam a concretização dos direitos e do trabalho realizado pelas mulheres. Lembrando que as mulheres trabalhadoras rurais do campo, da floresta e das águas são as grandes guardiãs de conhecimentos ancestrais sobre alimentação e saúde.
Elas desempenham um papel crucial na garantia territorial e na soberania alimentar, enfrentando as piores condições de acesso à terra, à água, ao crédito, à assistência técnica e a muitos outros recursos indispensáveis para a estrutura das produções.