A Rede Emaranhadas foi até a comunidade de Argola e Tambor, situada no Gapara, zona rural de São Luís (MA), para fazer uma visita afetiva à Ione e Elena, mulheres à frente do projeto de produção de geleias artesanais nomeado Casa de Elena. No sítio de Elena, onde os doces e outras conservas são produzidas, conversamos sobre o trabalho que elas desenvolvem e a relação com a comunidade.
Não é só sobre geleias
Ione e Elena, chegaram ao Gapara para fixar moradia e com objetivos distintos, mas a vivência com experiências anteriores e a inquietação com a realidade que as cercam, foi um motor para que além da transformação de fruta em geleia, elas também buscassem transformar a realidade de outras mulheres no entorno.
Mesmo com adversidades e falta de apoio, elas organizam projetos sociais de empreendedorismo ao público feminino, como o curso de pães que, atualmente, estão realizando no sítio, com participação de cerca de 20 mulheres da comunidade, oferecendo oportunidades de empoderamento econômico e social.
Ao empoderar mulheres e criar oportunidades para o desenvolvimento coletivo, elas demonstram que é possível construir uma economia baseada na colaboração e na sustentabilidade. Ione, especialmente, com uma trajetória de movimento social, acredita na economia solidária como ponte para o desenvolvimento socioeconômico sustentável.
O empreendedorismo social, vai além do lucro individual, se torna uma força que impulsiona a mudança social, proporcionando não apenas meios de subsistência, mas também promove a autoestima, a educação e o sentimento de comunidade. Algo que Ione e Elena esperam alcançar, apesar de todos os desafios.
“Os desafios são muitos, a resistência e falta de conhecimento de algumas mulheres, a falta de apoio dentro e fora da comunidade… mas se tivermos 3 ou 5 mulheres que consigam produzir pão por conta própria e tirar um sustento a partir disso, a gente já fica feliz”, afimam.
Estímulo à produção local e agroecológica
As produtoras também incentivam a produção do Gapara e comunidades próximas, para a confecção de suas geleias, que sejam livres de agrotóxicos. Elas não só fomentam a produção da região, como enaltecem a diversidade e variedade de hortifruti que caracteriza o entorno e pode ser produzido lá.
No quintal produtivo que elas cultivam e de onde tiram também alguns insumos, existe um cuidado e prioridade no uso de biofertilizantes para que nenhum produto químico seja aplicado na horta, sem comprometer a saúde da terra e das pessoas.
A luta de Ione e Elena na comunidade Argola e Tambor – uma comunidade quilombola em processo de reconhecimento – também se projeta no descaso da administração pública na promoção do acesso a serviços como asfaltamento e fiscalização das ações de grandes empresas que atuam no local, impactando não só na paisagem como nos recursos naturais e na própria saúde da comunidade.
O trabalho é árduo e de longa data, que resiste aos desafios enfrentados e tem sonhos nobres para geração de uma pauta positiva sobre a comunidade e que incentiva a coletividade a manter e proteger o potencial produtivo que o território tem.