Nosso CNPJ são os manguezais e a terra

Dona Máxima e a luta na comunidade Rio dos Cachorros

A zona rural de São Luís segue revelando mulheres protagonistas na luta pelo território. O projeto segue com seu mapeamento e se emaranha pela comunidade Rio dos Cachorros, zona rural de São Luís (MA). Lá reside Dona Máxima Pires, uma das mulheres de referência da região e das lutas populares e de direito à Terra na capital maranhense.

Teve forte atuação na mobilização em prol da comunidade Cajueiro, caso que ganhou repercussão após a comunidade sofrer uma violenta tentativa de reintegração de posse.

Segura de si e de seu lugar de fala, Máxima contou um pouco de sua trajetória e alguns episódios que, segundo ela, foram de aprendizado para a vida.

Ela se reconhece como uma mulher de luta e nomeia sua incidência como uma “mulher atrevida” e diz que luta pelo direito das mulheres, principalmente das mulheres das águas e dos mangues. 

Ela destaca que a comunidade e as mulheres, sofrem diversas violências, sobretudo a violência institucional, e policial que ela mesma já sofreu em diferentes momentos por conta de sua militância. 

A mesma conta que já foi detida,  e nessa ocasião as mulheres da comunidade foram protestar, batendo panela e cantando, em frente ao local de sua prisão pedindo sua  liberdade. 

Ela chama atenção que não devemos nos acostumar com as injustiças. Fala também da violência do estado quando uma mãe tem que dormir em filas para conseguir matricular seu filho em uma  escola, do descaso do poder público com a saúde, da falta e negação de políticas públicas.

Dona Máxima se candidatou a vereadora em 1998 pelo partido dos trabalhadores onde até hoje é filiada, mesmo bem votada não conseguiu se eleger. Hoje, mostra-se desacreditada com a política partidária, principalmente no que diz respeito à negligência com a população da zona rural.

Cultura da Solidariedade

Dona Máxima acredita que não dá para isolar os problemas que assolam as comunidades da zona rural de São Luís. Para ela, tais áreas sofrem com  problemas semelhantes. 

Em função disso, acredita veementemente na união popular como estratégia de combate aos conflitos deflagrados em função de empreendimentos portuários e industriais que causam degradação ambiental, deturpando diretamente a lógica de ocupação do território e usufruto da natureza que a comunidade defende.

Ela nomeia de cultura da solidariedade a forte característica das comunidades tradicionais em se amparar e estar presente em todos os momentos, em especial, nos conflitos e embates políticos e territoriais. Nós temos que ser a mosca que cai na sopa, afirma.

Vínculo com a terra

Dona Máxima mora na comunidade desde que nasceu, onde constrói  forte vínculo com o território, grande defensora da natureza, perceptível em seu discurso que enaltece a mata como essa fonte, não só de sustento, mas de qualidade de vida, de bem viver.

Tem forte afinidade com seu quintal, com o mangue, com a terra. Ela cria animais de pequeno porte, cultiva hortaliças, verduras e plantas medicinais que são, em sua maioria, para consumo próprio, mas também permite a existência de uma economia popular e independência financeira com a comercialização de alguns produtos em feiras.

 Ela integra o grupo Damas da Roça, composto por mulheres de Rio dos Cachorros e outras comunidades próximas. Uma rede de mulheres que defende e protege o território, pois acredita que a terra é principalmente das mulheres, onde elas gestam a terra com as sementes, fortalecendo também o protagonismo feminino na relação, na promoção da economia popular, solidária e feminista.

Nesse mundo nosso, não tem quem ganhe quando a natureza perde.

Dona Máxima foi uma das principais mobilizadoras no combate à implantação do pólo siderúrgico na área que inclui Rio dos Cachorros, e destaca que a luta atual da comunidade é a proposta de revisão do plano diretor de São Luís e a Lei de Zoneamento que tramitam no município e que pretende transformar parte daquela área em zona industrial. 

Isso vai facilitar a chegada de novos empreendimentos, expansão dos que já estão lá, com redução das comunidades e maior degradação ambiental.

A relação de respeito e troca com a terra é ancestral e atravessa gerações. Ela  menciona por diversas vezes a tia de quem herdou o nome e a garra para defender o território onde vive.

Ao enfatizar, portanto, que o CNPJ da comunidade são os manguezais e a terra, ela reafirma a relação identitária e de pertencimento que existe,  ao relatar que o emprego da comunidade são os manguezais como fonte também de auto sustento.

Rio dos Cachorros no mapa

A comunidade de Rio dos Cachorros está localizada na zona rural de São Luís, entre a Vila Maranhão e Pedrinhas; conta com cerca de 300 famílias, atualmente, segundo Dona Máxima.

O nome da comunidade vem do rio que banha aquela região, incluindo outros bairros, como Vila Maranhão, Cajueiro, Parnauaçu, Taim, Limoeiro e Porto Grande. 

Rio dos Cachorros foi uma das doze comunidades alvo de despejo em função da implantação de polo siderúrgico que resultaria na construção de usinas na região próxima ao complexo portuário já instalado.

O projeto do polo ocuparia quase 2500 hectares, localizados entre o Porto do Itaqui e a comunidade de Rio dos Cachorros. Sua execução implicaria na remoção das mais de 14 mil pessoas que à época (2004) viviam nessa região.

A mobilização popular de moradores, como Dona Máxima, articulados com entidades de direitos humanos e movimentos sociais, derrubou o projeto do polo e manteve o território em posse das comunidades.

Ciente que a luta é processual, de resistência e de esperançar, Máxima afirma que “não se vence luta de segunda para terça” e conclui que a sabedoria vem do povo e o que se tem para a luta é “uns aos outros”.

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