A luta das mulheres na Zona Rural de São Luís

“Acreditar e agir fazem parte da história”

Silvia e Hariadna, respectivamente mãe e filha, são moradoras da comunidade Residencial Natureza, localizada na Zona Rural de São Luís, antes chamada de Residencial Ribeira. A comunidade está situada dentro do que se convencionou a ser chamada de área industrial. 

Mãe e filha compartilham além do vínculo familiar, a rebeldia e a resistência para liderar a luta dessa comunidade, que há anos sofre com o assédio e a ameaça de despejo por parte de uma empresa de móveis que se diz dona da área. 

Hariadna, com 27 anos, é hoje a presidente da Associação de Moradores da ocupação onde vivem aproximadamente 240 famílias. 

Ela assumiu esse posto aos 24 anos e hoje é uma referência às demais mulheres. Assim como muitos, Hariadna chegou ali em busca de um lugar para fincar morada e viver com seu esposo e três filhos – um deles nasceu lá. 

Silvia é natural da cidade de Cantanhede, localizada na região norte do Estado, cidade banhada pelo rio Itapecuru, onde desde sua infância, nutria um profundo respeito e carinho pelas águas desse rio. 

Além de local de moradia, os moradores do Residencial Natureza  desenvolvem  trabalhos ligados à relação com a terra, vínculo esse que muitos possuíam desde seus lugares de origem, dentre esse trabalho está a produção de alimentos por meio da agricultura familiar, os produtos cultivados no território, são vendidos nas feiras da capital. 

O nome da comunidade não é mera causalidade, os moradores mais antigos relatam nostalgicamente como era o lugar há alguns anos atrás, com uma diversidade de animais e árvores que ali existiam. Residencial Natureza está situado próximo da APA (Área de Proteção Ambiental) do Maracanã, que foi criada com o objetivo de proteger os recursos naturais e a integridade biológica das espécies (fauna e flora) e principalmente o que diz respeito à proteção e qualidade das águas que lá existem, em uma área de quase 1900 hectares, porém, falta empenho do poder público em coibir os avanços das empresas que existem próximo desta área, principal causadora da degradação do solo, da água e do ar nesta região. 

Ao longo dos anos vividos na comunidade, Silvia e Hariadna assumiram a luta pela defesa da terra, mas principalmente das águas, o lugar é abençoado pela presença de dois rios que abraçam o território, o Rio Tibiri e o Rio Ribeira, rios marcadamente importantes para o equilíbrio do meio ambiente na capital. Nos encanta o cuidado e a preocupação com a forma que elas miram para estes rios e suas nascentes, lamentando a destruição dos mesmos.. 

Mãe e filha travam uma luta incansável denunciando as violações pelas quais passam esses dois afluxos, que há anos recebem os dejetos que são jogados criminosamente pelas empresas que ficam ao seu entorno. 

Além das diversas lutas que travam pela permanência delas e das outras famílias do local, as duas ainda tiveram suas vidas atravessadas pela dor de uma grande perda. Em 2021, dona Silvia teve a triste notícia do assassinato do seu filho, com apenas 20 anos. Hariadna, assim como a mãe, convive com a dor e a incerteza da causa da sua morte. Embora imersas na dor, elas continuam a ser fortalezas e suporte uma para outra e para muitas pessoas, principalmente para mulheres que têm nelas o apoio para continuidade das suas lutas diárias. 

Ao nos emaranharmos com essas duas mulheres, sentimos que as linhas do tecimento das nossas esperanças se tornam cada vez mais fortes, pois são companheiras que sabemos que podemos contar.  

Mesmo com todo esse histórico de luta pelos benefícios coletivos, elas não encontram apoio em toda comunidade, principalmente de alguns homens que não as aceitam como lideranças femininas. A luta para romper essas estruturas machista que tentam silenciá-las também é diária. Os desafios são muitos, mas Sílvia e Hariadna seguem agindo, construindo e acreditando em seus sonhos de bem-viver  no campo e na cidade.

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